quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Plante sua ideia para 2023 - Janeiro Branco

Pensando aqui na primeira linha para este post... Por onde começar?

Começo expondo a ideia de que o "Janeiro Branco" não é uma unanimidade. Na verdade, é bem polêmico.

 


 

Então faço questão de demarcar minha posição e o que me moveu como guia na elaboração desta atividade.

Reconheço e concordo com muitas das críticas suscitadas em torno do Janeiro Branco. Deixo dois indicativos de discussões e reflexões, as quais considero relevantes e bem embasadas [1].

Diante disso, impossível não iniciar a elaboração da proposta com algumas ressalvas.

Ainda que pesem muitas críticas, não deixa de ser uma data validada pelo calendário do Ministério da Saúde [2] e, portanto, com bastante adesão das equipes de saúde do SUS. Vamos lembrar que há uma grande ênfase na proposta de campanhas com mês / cor / doença (ou questão de saúde), que gera adesão e certo alcance junto ao público em geral.

Querendo ou não, o Janeiro Branco, o Setembro Amarelo, o Outubro Rosa, o Novembro Azul estão incorporados ao vocabulário de profissionais de saúde e população.

Então como tirar vantagem disso? Aderindo até certo ponto à ideia, mas aproveitando para, ao mesmo tempo, colocá-la em questionamento, junto a trabalhadores e à população. Especialmente, desafiando a ideia de saúde mental como algo de responsabilidade individual e desconectado das condições reais de vida.

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Do que fiz...

Utilizei a expressão Janeiro Branco, mas acrescentei uma frase publicizada pelo Conselho Federal de Psicologia, agora em 2023 mesmo: "saúde mental de janeiro a janeiro" [3].

Dividi a proposta em dois eixos: breve ação de EPS junto às equipes apoiadas, em reunião de equipe, e grupo voltado à população e equipes também.

Para EPS, me utilizei de materiais do site oficial da campanha Janeiro Branco [4], para abordar as origens e intencionalidades da data, mas acrescentando reflexões para além dos slogans e frases de efeito.

 


 

Foi mais uma conversa mesmo, na qual falamos da campanha em si e das ponderações e críticas que circulam por aí quanto à proposta.

Surgiram questionamentos sobre a diferença entre Janeiro Branco e Setembro Amarelo.

 

Para a ação terapêutica em si... 

Já que o subtítulo foi "saúde mental de janeiro a janeiro", fiquei pensando em como demarcar a ideia "do ano todo".

Daí veio a inspiração do semear e colher, do plantar, de uma árvore.

E surgiu a ideia de uma árvore cujas folhas serviriam para expressar ideias, desejos, expectativas para todo 2023. Era também um modo de coletar pistas sobre o que move as pessoas ali, população e trabalhadores da unidade.

Essa execução linda da ideia, que aparece a seguir, foi obra(-prima) de uma das trabalhadoras que se envolveu na proposta do grupo.



Esse foi o card de divulgação, para convidar a população.




Sobre o público que compareceu, cabe dizer que se misturaram três territórios diferentes: o da própria unidade e de mais duas unidades adjacentes.

Essa ação foi elaborada em diálogo com a equipe de SF apoiada, envolvendo especialmente Agentes Comunitárias de Saúde. Parceria potente e repleta de afeto, que não pode ficar sem destaque.

Aliás, esse foi um dos pontos altos em propor e executar este encontro: as valiosas contribuições das eSF envolvidas.

O encontro em si se iniciou com a abordagem sobre o que é a campanha do Janeiro Branco. Uma mulher logo identificou com o Outubro Rosa. Enfatizamos a importância da saúde mental ser tema durante o ano todo.

Fizemos a leitura das "folhas" da árvore, colocando em debate o que seria "cuidar da saúde mental", para além de medicações e outros tratamentos, como a psicoterapia.

Em seguida, exibi um vídeo curto, chamado Na Travessia do Vazio [5]. Um desenho, na verdade.

Apesar de ter sido criado em fase mais aguda da pandemia, enfocando o sofrimento inerente ao isolamento social, o vídeo pode ser tranquilamente extrapolado para além. Até porque o isolamento social não foi "inventado" com a pandemia, se tratando de fenômeno bem mais extenso e antigo.

Importante ressaltar que o vídeo conta com poucas palavras escritas, apostando mais nos movimentos do personagem principal e efeitos sonoros. Achei importante porque costumamos ter neste público pessoas com pouco ou nenhum domínio de leitura e escrita. E não podemos deixar ninguém de fora...

As palavras escritas que aparecem identificam sentimentos associados ao isolamento social, propiciando um ótimo mote para conversa com o grupo.

A partir daí, o encontro foi em torno de diálogos, onde as presentes (quase todas mulheres, como esperado) expuseram sentimentos, preocupações, ocupações, problemas cotidianos, conflitos familiares, mas também compartilharam os modos que constroem para enfrentamento dessas adversidades.

Alguns relatos foram bem pessoais e com doses intensas de afetos, causando certa comoção no grupo.

Não deixou de surgir o movimento natural em que uma mulher apoiou a outra, dando ideias para fortalecê-la. 

 

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[1] Posicionamento do CFP 

 Precisamos falar sobre "Janeiro Branco"

[2] Calendário da Saúde (Ministério da Saúde)

[3] saúde mental de janeiro a janeiro - nota CFP

[4] site oficial Janeiro Branco

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