O poema que escolhi para este post se chama "Não há vagas", de Ferreira Gullar.
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira
Ferreira Gullar, in 'Antologia Poética'
Ferreira Gullar, in 'Antologia Poética'
Gosto deste poema porque é relativamente curto e se utiliza de linguagem simples.
Escrito em 1963, soa bastante (e desconcertantemente) atual, podendo disparar muitas reflexões a cada verso.
Para conferir vida a esses versos, escolhi um formato simples, 'duro' e direto.
Pode ser compartilhado numa roda de conversa, por exemplo, para leitura.
Sobre o autor: Ferreira Gullar era o pseudônimo escolhido pelo escritor e poeta (e muito mais) José Ribamar Ferreira, nascido na cidade de São Luís, em 1930 e falecido no Rio de Janeiro em 2016. Ele organizou e liderou o movimento Neoconcreto de poesia, na década de 1950.
A poesia
Quando chega
Não respeita nada.
(trecho de Subversiva, de Ferreira Gullar)
Assustadoramente atual, achei que tinha sido escrito há pouco tempo...
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