sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Comunicação Não-Violenta (CNV)

Uma intervenção sob encomenda especial.

Esse relato será sobre uma experiência bem interessante de uma ação de Educação Permanente em Saúde elaborada após um pedido bem específico.

Começando do começo... 

Uma equipe de Saúde da Família (eSF) apoiada se viu diante de uma situação bastante tensa, ainda mais neste contexto de pandemia e vacinação em massa, envolvendo um usuário (até então desconhecido) da unidade e parte da própria equipe. 

De acordo com a equipe, de modo inesperado e injustificado, um usuário se exaltou e começou a insultá-los, aos gritos. As intervenções junto ao desconhecido não foram bem sucedidas num primeiro momento, levando a novos desentendimentos...

Essa é uma situação com a qual todo trabalhador de saúde se identifica porque já vivenciou ou testemunhou algo semelhante. E todos sabem o quanto esses episódios tiram de nosso sossego e podem até se tornar perigosos.

Enfim, a referida cena levou a equipe a pensar na técnica da Comunicação Não Violenta (CNV) como uma estratégia possível para lidar com estas situações. E assim surgiu a encomenda de EPS.

A tarefa de estudar e elaborar esta ação foi compartilhada com um membro da própria equipe, grande parceiro meu de caminhada nesta seara da EPS.

Estudamos juntos a técnica em si, pesquisando e compartilhando referenciais. 

A principal referência foi o livro Comunicação Não-Violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais, do psicólogo estadunidense Marshall Rosenberg. (Esse livro é bem fácil de achar, inclusive em formato PDF, na internet).

No livro Comunicação Não-Violenta, Rosenberg refere que “... fiquei impressionado com o papel crucial da linguagem e do uso das palavras. Desde então, identifiquei uma abordagem específica da comunicação — falar e ouvir — que nos leva a nos entregarmos de coração, ligando-nos a nós mesmos e aos outros de maneira tal que permite que nossa compaixão natural floresça. Denomino essa abordagem Comunicação Não-Violenta, usando o termo “não-violência” na mesma acepção que lhe atribuía Gandhi — referindo-se a nosso estado compassivo natural quando a violência houver se afastado do coração.”

No mesmo livro, ele continua:

“A CNV se baseia em habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem a capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas. Ela não tem nada de novo: tudo que foi integrado à CNV já era conhecido havia séculos. O objetivo é nos lembrar do que já sabemos — de como nós, humanos, deveríamos nos relacionar uns com os outros — e nos ajudar a viver de modo que se manifeste concretamente esse conhecimento. A CNV nos ajuda a reformular a maneira pela qual nos expressamos e ouvimos os outros. Nossas palavras, em vez de serem reações repetitivas e automáticas, tornam-se respostas conscientes, firmemente baseadas na consciência do que estamos percebendo, sentindo e desejando. Somos levados a nos expressar com honestidade e clareza, ao mesmo tempo que damos aos outros uma atenção respeitosa e empática. Em toda troca, acabamos escutando nossas necessidades mais profundas e as dos outros. A CNV nos ensina a observarmos cuidadosamente (e sermos capazes de identificar) os comportamentos e as condições que estão nos afetando. Aprendemos a identificar e a articular claramente o que de fato desejamos em determinada situação. A forma é simples, mas profundamente transformadora.”

(trechos extraídos do livro Comunicação Não-Violenta de M. Rosenberg)

Para abordar em apenas um encontro, inicialmente, o tema, decidimos pelo envio de dois pequenos vídeos que encontramos no YouTube, para que a equipe assistisse antecipadamente.

No encontro em si, discutimos em linhas gerais o conceito de CNV e fomos para os 4 componentes da CNV, conforme apresentados no livro: observação, sentimento, necessidade e pedido.

Para a exposição dos componentes, escolhi o formato móbile, para que ficasse exposto na sala. Seguem as fotos:



E um a um, fomos conversando sobre os componentes.

Depois desta exposição e discussão, pedimos que alguém nos oferecesse espontaneamente uma história pessoal de conflito.

A partir da contação desta história, pedimos que o grupo se dispusesse a pensar nos componentes da CNV e que cada um simulasse uma resposta diferente, para cada componente.

E a partir disso, foi diálogo, reflexão, problematização, compartilhamento experiências... Tudo que a EPS precisa para acontecer.


Um comentário:

  1. Como sempre, o móbile e as fotos estão lindas! Admiro quem consegue praticar a comunicação não violenta, acho que requer uma paciência divina e muito esforço.

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