Em 18 de maio, é comemorado o Dia Nacional da Luta Antimanicomial.
O nome pode causar estranheza e tropeços na pronúncia, porém vale a pena um mergulho no tema, que é indissociável do debate sobre Saúde Mental ou Atenção Psicossocial.
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No final da década de 1970, iniciou-se o movimento da Reforma Psiquiátrica, coincidindo com o final da ditadura civil-militar. Em 1987, aconteceram dois eventos importantes para a escolha do dia que simboliza essa luta, o Encontro de Trabalhadores da Saúde Mental, em Bauru/SP, e a I Conferência Nacional de Saúde Mental, em Brasília. Em 2001, foi aprovada a lei nº 10.219, instituindo a Reforma Psiquiátrica.
Mas o que significa isso?
A partir da lei da Reforma Psiquiátrica, houve um redirecionamento do modelo assistencial em saúde mental no país. Começava a extinção do cuidado em saúde mental com a privação de liberdade em leitos de hospitais psiquiátricos e manicômios. Passava a ser prioridade o tratamento em liberdade, em serviços de "porta aberta", com vivência comunitária e próximos ao local de moradia da pessoa.
Não se admitiria mais discriminação e exclusão de pessoas com sofrimento em saúde mental de nossa sociedade, da convivência familiar e comunitária, dos espaços públicos.
E a luta antimanicomial, o que é afinal?
O Movimento Antimanicomial se propõe a lutar pelos direitos das pessoas com sofrimento mental. Um dos principais objetivos é o combate ao estigma / preconceito e à exclusão de pessoas com sofrimento psíquico grave. O Movimento Antimanicomial defende o direito fundamental à liberdade, o direito a viver em sociedade, além do direito a receber cuidado e tratamento, sem diminuir seu potencial para o exercício da cidadania.
E onde se busca ajuda hoje em dia?
A Unidade Básica de Saúde ou Unidade de Saúde da Família pode ser um bom começo. Elas são a porta de entrada do SUS, exceto em casos de muita gravidade.
Temos também os Centros de Atenção Psicossocial, chamados de CAPS, que podem atender essa demanda.
E contamos com as Unidades de Pronto Atendimento, conhecidas como UPA, para casos de muita gravidade, em que haja risco de dano grave ou morte para a pessoa.
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O texto acima foi elaborado para um mural informativo em uma Unidade de Saúde da Família. A intenção era deixar a leitura compreensível para o diálogo com a população.
No grupo de saúde mental mensal da unidade, este foi o tema do encontro de maio.
Como disparador do encontro, utilizamos um vídeo do Brasil de Fato, chamado Luta Antimanicomial: o que é e qual o cenário atual do Brasil?
Esse vídeo é curto, com pouco mais de 5 minutos de duração, de linguagem acessível e muitas imagens ilustrativas.
Por estar em Santos (São Paulo), é impossível dissociar a experssão "antimanicomial" e a instituição denominada Casa de Saúde Anchieta. Logo no início do diálogo com o grupo, uma participante se manifestou, referindo que um parente próximo, já falecido, foi interno lá. Muitos moradores da cidade têm ou tiveram suas histórias de vida atravessadas por esta instituição, de maneira muito negativa.
A história deste lugar e sua desativação merece ser conhecida. Uma boa fonte para iniciar é o artigo Saúde Mental e a Antipsiquiatria em Santos: vinte anos depois, do Professor Doutor Roberto Tykanori Kinoshita. E daí em diante, existe farto material disponível on-line e gratuito.
Voltando ao encontro do grupo, após a exibição do vídeo, enquanto dialogávamos, estavam espalhadas na mesa cartolinas coloridas, com frases disparadoras sobre normalidade, loucura, lou(cura) e liberdade. Também estavam disponíveis canetas hidrográficas, lápis de cor, giz de cera, tinta guache e materiais de colagem. A atividade era de expressão livre.
Enquanto os participantes escreviam ou se ajudavam na incursão no mundo das letras, um diálogo muito interessante ia se passando, revelando diversas concepções, percepções, preconceitos, sofrimentos, frustrações, suscitados pelas palavras 'normalidade' e 'loucura'.
Dar voz a esses pensamentos / sentimentos, compartilhando pequenos trechos de vida, foi o mais potente neste encontro.
Registros...
As cartolinas foram coladas pelas paredes da unidade, para manter em movimento, ao longo das semanas de maio, o tema da luta antimanicomial.
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