segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Vivendo às avessas

A personagem Alice, da obra "Alice no país das maravilhas", sempre causa certo estranhamento, seja pelos cenários por onde passa, seja nos diálogos travados com personagens exóticos ao longo de suas aventuras.

Em especial, tenho trabalhado com um trecho da obra "Alice através do espelho", que reproduzo a seguir.



“Alice pensou consigo: ‘Se é assim, não adianta nada falar.’ Dessa vez as vozes não a acompanharam, já que ela não falara, mas, para sua grande surpresa, todas pensaram em coro (espero que você entenda o que significa pensar em coro… porque devo confessar que eu não entendo): ‘Melhor não dizer nada. A fala vale mil libras a palavra!’
[...]
‘Uma criança tão pequena’, disse o cavalheiro sentado diante dela (a roupa dele era de papel branco), ‘deveria saber em que direção está indo, mesmo que não saiba o próprio nome!’
[...]
‘De todo modo, agora sei meu nome’, disse, ‘é algum consolo. Alice… Alice… não vou esquecer de novo. E agora, qual dessas setas devo seguir?’.
Não era uma pergunta muito difícil, já que uma única estrada atravessava o bosque, e as duas setas apontavam para ela. ‘Vou resolver a questão’, disse Alice consigo, ‘quando a estrada se dividir e elas apontarem rumos diferentes.’
[...]
‘Não a entendo’, disse Alice. ‘É horrivelmente confuso!’ ‘É isso que dá viver às avessas’, disse a Rainha com doçura: ‘sempre deixa a gente um pouco tonta no começo…’ ‘Viver às avessas!’ Alice repetiu em grande assombro. ‘Nunca ouvi falar de tal coisa!’ ‘…mas há uma grande vantagem nisso: a nossa memória funciona nos dois sentidos’.” 
Extraído de Alice através do espelho, de Lewis Carroll, 1871

Esse trecho me foi sugerido pela querida orientadora Mafê.
Particularmente, escolhi circular esse trecho por escrito e com visual bastante chamativo. Porque acredito que não há como trabalhar com uma personagem como a Alice sem uma boa dose de criatividade.



Esse trecho me fez refletir muito sobre processos e o quanto é possível (ou não) organizar e controlar processos em saúde ou em educação em saúde, por exemplo. Mas um processo que foge ao planejado é um processo que deu errado? Ou é um processo sendo... processo!
Há um único sentido no trabalho em saúde, em educação? Ou vamos construindo sentidos, processos, significados ao longo do percurso?
Por vezes, o planejado não se cumpre e o improviso se torna a regra. E isso é o processo!
Em tempo: também vale destacar o início do trecho, quando Alice cita o "valor da palavra". Se a palavra tem valor, o silêncio também tem?



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